terça-feira, 7 de agosto de 2007

Nimbus


Há alguns anos o tempo mudou. O tempo do homem, o tempo dos segundos, não tanto o tempo da natureza, pois este continua abrasivo. As coisas, tanto as palpáveis como as imaginárias, se agregam da passagem dos dias e anos e isso resulta no fim de alguns mistérios. O avô de Marconi é um homem sábio, enfrentou grandes baques na prolongada vida que não o quer deixar. Sentados em cadeiras duras, num semicírculo, todos ouvimos as histórias do velho que trabalhou somente em um lugar, sendo gerente de um banco, mas bem que poderia ser artista.

Seus olhos são unidos por sobrancelhas grossas e nevadas, tem as pupilas grandes e redondas e a voz de coronel. Não sabemos o nome dele. Ele é apenas o avô de Marconi. Beirando os noventa anos, o velho quer ficar sempre entre os jovens, diz com uma carga de crenças na voz: “A juventude espanta a mesmice da velhice solitária de um viúvo pensativo”. Suas estórias mesclam a antiga vida no interior do estado, onde os vaqueiros, as lendas e as mulheres de corpo delgado que se banham nuas nos rios da região se encontram como em um sonho cálido.

Ele me lembra, pelo jeito de poeta e as idéias distantes, alguns filósofos e professores geniais. Esta noite o avô de Marconi nos contou sobre a guerra dos mendigos, acontecida quando ele era criança, que dizimou os vários mendigos da pequena cidade, tudo por que eles queriam poder entrar na igreja e não podiam. Nos despedimos felizes e irrequietos, pois dali a uma semana haveria outra seção, e seria justamente a estória do Lobilosomem que o velho viu quando jovem e que, segundo o próprio, lhe dera sorte para o resto da vida.

Não houve outra seção. Quando amanheceu, não havia mais o avô de Marconi. Fora embora durante a noite, deixando apenas o corpo imóvel e frio de um velhinho fraco. Encontraram em sua mão um pedaço amassado de papel, onde constava a seguinte e misteriosa frase: “A morte é somente um estratagema da vida, nada mais’. No enterro apareceram alguns vaqueiros e mulheres de corpo delgado, foi inevitável sorrir ao imaginar uma ponta de realidade em estórias tão despretenciosas.



Mauricio Mayckon

2 comentários:

Alexandre Grecco disse...

Bem Latino... hehehe
Lembra os contos fantásticos, até o jeito!

Ilana disse...

Queria muito ter conhecido esse avô!