quarta-feira, 1 de agosto de 2007

hoje; um lugar no ontem

Acordei um pouco mais pouco que ontem. Hoje é quinta e o filho da puta do vizinho inventa de ouvir música alta, sempre os mesmos sertanejos contando as mesmas mazelas. Coloco um Clapton pra limpar o ambiente blues before sunrise. Dou uma mijada, olho pro pau, não sei o porque do sangue, escovo os dentes, olho para o espelho e não acredito nas olheiras, três dias sem dormir direito. Não tem café, não tem pão, não tem uma porra de uma água na geladeira. Desço pra ver se encontro algo pra comer, no bar vizinho tem um queijo quente que não sei de onde vem e talvez pouco me importe a procedência, as coisas simplesmente são. Ter que recomeçar um dia é como ter que se desprender do sono, dos bocejos blues leave me alone. Vou a casa dela, como sempre faço, ia contar-lhe do sangue, mas a gente transa, responsabilidade nunca foi o meu forte e, outra; ela quer uma tal de união direta, não sei bem o que é isso, talvez tenha lido em algum auto-ajuda que ela empilha no trabalho. Me conta os problemas, os gastos, “vem pra cá amor!”, pro inferno, se soubesse como gosto de acordar. Eu passaria a eternidade dormindo, mas sou covarde demais pra morrer, talvez me matasse depois de sair da casa dela, mas vou ler revistinhas na banca, talvez anime meu dia goin’ away baby.

O centro da cidade é uma merda, muita gente, gente que nem sabe pra onde vai, de onde vem, o gado pasta. Eu compro uns livros, sobrou um trocado da minha rescisão, como não compro nada pra casa mesmo, levo um kerouac, falo assim em minúsculo por que não sou muito fã dele não, talvez tenha influenciado demais um monte de cabeças de vento, ninguém entendeu on the road e poucos leram vagabundos iluminados... Levei o livro dos sonhos, mas uma besteira dele, acabei lendo todo enquanto pegava o trem pra algum lugar mais lugar que ontem. Desci na esquina da casa dela, de onde tinha saído há poucas horas, talvez todos os caminhos me levem a ela groaning the blues. Dei o livro a ela, talvez sirva mais naquela cabecinha pós-pós-moderna. Voltei pra casa, talvez assim acertasse o caminho, comprei uma vodka, comprei alguma coisa do que resta, ouvi Clapton, motherless child, dormi pra esperar o amanhã e quem sabe acordar um pouco menos que hoje...
Alexandre Grecco, 2007

Um comentário:

Ilana disse...

Dramático e realista seu texto... Muito bom!! Nada como um blues pra te deixar mais na merda ainda.