
Domingo era sempre a mesma coisa; salame italiano, cerveja preta e corrida de fórmula um. Esperava sempre que algum brasileiro superasse as expectativas da sua semana enfadonha. Depois de mais um dos fracassos, pedia a um dos meninos que buscasse mais cerveja e mantivesse o sorriso no rosto, talvez não existissem famílias assim, as crianças tem fome e desperdiçar comida e carinho é pecado diz o padre nos domingos que ela sempre acompanhava, era a oportunidade dela se ver livre e poder contar ao padre o caso que mantinha com o amigo do marido que assiste fórmula um. O padre a recriminava, eram vinte “ave marias” e dez “pai nossos” e mais um menino no seu quarto, como é de costume dos padres e dos meninos. Almoço simples, feijão, mentira, arroz e uma carne de segunda, tudo era assim de segunda, como essa carne, como a carne da filha do açougueiro, que as vezes dava de cortesia carne de segunda “seu filho é muito respeitoso com minha filha seu Agenor” e Clarisse fugia das carnes e buscava seus amigos, brincava rodava e dava as coxas para que todos gozassem, mas só nas coxas, como um poema sujo. E ele agradecia e dizia “foi bem criado seu Carlos, muito obrigado pela carne, é pra amanhã depois da corrida”. Goiabada cascão, leite moça e o domingo se arrasta. Faustão e festa na praça, as mesmas pessoas e as mesmas cervejas quentes e espetinhos de gato. Depois a embriagez e mais algumas mentiras; o pau não sobe, a dor não passa e mais uma vez eu mijo sangue. Tomo um cachorro em pílula que me come por dentro. Às vezes rola até um baseado mais minha mãe e o amigo e a corrida e as coxas dela – tão quentes. O dia passa e mais uma vez segunda-feira nasce, fria, como nascem friamente cedo as segundas-feiras...
Alexandre Grecco, 2007