
- Qual o seu estilo? – perguntou um escritor ao outro.
- Não sei. Entendo pouco de definições, principalmente daquelas que se reportam a mim mesmo e de outras, mais irregulares ainda, sobre literatura.
- Não haveria vida ou festas se não tivéssemos arraigados na memória coletiva uma dose alta de certezas, afinal, o melhor Prozac para a alma é um pedaço açucarado de verdades prontas. Desculpe amigo, mas escritor sem estilo é rio sem água.
- Estilo tenho, só não o defino. Meus olhos são bons em entender os outros, mas me perco em esquetes amargos quando tento estudar meus próprios caminhos. E você, sábio escriba, que marca tem os teus versos?
- Escrevo o imaginário que cerca minha rua, a casa onde durmo, o corpo descomunal das mulatas que seduzo. Fecho os olhos e transcrevo as impressões que tenho das confusões diárias, o rosto pálido de Joana, os olhos insones que não dizem nada em frente ao espelho. Minhas palavras têm vida própria. Entre os grandes escritores, quais os estilos que mais lhe embriagam?
- Pergunta tinhosa. Devo admitir que me consumo em prazer com as sombras hilárias de Kafka, profeta entre profetas. Me arrepia a construção do tempo nas linhas de Proust. E não esqueço as viagens de Guimarães Rosa, viagens essas ao interior das geografias, tanto terrenas como humanas.
- Vejo que já leste grandes nomes. É incrível que não tenhas estilo próprio. Nunca pensaste no ofício da escrita?
- Esta conversa está nebulosa. Que tal falarmos sobre música?
- Só a literatura importa, e isto é verdade concreta.
- Há um pouco de verdade nesta sentença, mas não esqueça de um velho ditado: “As sentenças nunca se confundem com a verdade; ou são meia verdade, ou verdade e meia”.
- Este ditado não existe!
- Existe desde o momento em que eu o proferi. Mas ele só vai existir realmente quando o passar para o papel. A escrita fabrica tantas verdades quanto a realidade, se é que ambas não são a mesma coisa.
- Olha que morena rapaz. E parece que não ta acompanhada...
- É a Berenice, minha esposa.
- Opa... É... Vamos retornar ao nosso assunto anterior, tão cheio de vertentes e paradigmas, tão rico em hipóteses e hipotenusas... Que tal???
- ...
Mauricio Mayckon
- Não sei. Entendo pouco de definições, principalmente daquelas que se reportam a mim mesmo e de outras, mais irregulares ainda, sobre literatura.
- Não haveria vida ou festas se não tivéssemos arraigados na memória coletiva uma dose alta de certezas, afinal, o melhor Prozac para a alma é um pedaço açucarado de verdades prontas. Desculpe amigo, mas escritor sem estilo é rio sem água.
- Estilo tenho, só não o defino. Meus olhos são bons em entender os outros, mas me perco em esquetes amargos quando tento estudar meus próprios caminhos. E você, sábio escriba, que marca tem os teus versos?
- Escrevo o imaginário que cerca minha rua, a casa onde durmo, o corpo descomunal das mulatas que seduzo. Fecho os olhos e transcrevo as impressões que tenho das confusões diárias, o rosto pálido de Joana, os olhos insones que não dizem nada em frente ao espelho. Minhas palavras têm vida própria. Entre os grandes escritores, quais os estilos que mais lhe embriagam?
- Pergunta tinhosa. Devo admitir que me consumo em prazer com as sombras hilárias de Kafka, profeta entre profetas. Me arrepia a construção do tempo nas linhas de Proust. E não esqueço as viagens de Guimarães Rosa, viagens essas ao interior das geografias, tanto terrenas como humanas.
- Vejo que já leste grandes nomes. É incrível que não tenhas estilo próprio. Nunca pensaste no ofício da escrita?
- Esta conversa está nebulosa. Que tal falarmos sobre música?
- Só a literatura importa, e isto é verdade concreta.
- Há um pouco de verdade nesta sentença, mas não esqueça de um velho ditado: “As sentenças nunca se confundem com a verdade; ou são meia verdade, ou verdade e meia”.
- Este ditado não existe!
- Existe desde o momento em que eu o proferi. Mas ele só vai existir realmente quando o passar para o papel. A escrita fabrica tantas verdades quanto a realidade, se é que ambas não são a mesma coisa.
- Olha que morena rapaz. E parece que não ta acompanhada...
- É a Berenice, minha esposa.
- Opa... É... Vamos retornar ao nosso assunto anterior, tão cheio de vertentes e paradigmas, tão rico em hipóteses e hipotenusas... Que tal???
- ...
Mauricio Mayckon
Um comentário:
Hahahahaha! Figura! "Tão cheio de vertentes e paradigmas, tão rico em hipóteses e hipotenusas" Haha!
Quando comecei a ler, achei que era sério!
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