
Mas tudo é cultura, adoro os jovens falando de cultura, se convencia o bêbado. Um bar típico, sempre os mesmos cantores, as mesmas músicas no karaokê, sempre o mesmo cheiro. Cheiro de cansaço e cheiro de alegria, cheiro de virilha. O viado sempre cantando e dançando, se espalhando na necessidade de se mostrar, como quem diz “quero a todos que tiverem o que uma mulher necessita”. Talvez o manco que a acompanhava tivesse algo para ele, ou ela, ou eles que habitam ela. A cerveja ao menos era gelada, os amigos falantes, talvez o álcool que os consumia deixava-os mais aguçados no pensamento. A única alegria contida era a dela, que talvez fosse medo, confusão ou receio. Ela que se postava ao meu lado como se não fosse minha. Talvez a distância do silêncio só fosse notada no tempo da mudança dos cantores. Menina linda eu te adoro...
A rua desabitada servia como espectadora dos desafinados trovadores. Talvez o dia tenha sido quente e as pessoas resolveram se esfriar na noite que também é quente. Ali estavam todos que habitam esse mundo de infinitas coisas. É sempre dos que fazem o que é feito, ou deveria ser. Senti-me pequeno diante dessas pessoas. Estavam ali se manifestando uns para os outros, como se fossem habitantes de tribos antigas, que dançavam para o sol, ou para a noite, colheitas e etc... Conseguiam conviver em completa harmonia, mesmo diante das diferenças; o gay, a lésbica, o machão, o novo, o velho... Contrastes que talvez nos restaurantes chiques não sejam permitidos. Os que mais vêem são os que mais se fecham. Como, em um mundo de tais diferenças não podemos entendê-las e respeita-las como a principio nos respeitam?
Se eu quiser falar com Deus... E ainda falam em Deus e coisas felizes. Não sabe o quanto são tristes, talvez saibam e não fazem questão de lembrar, fecham-se em suas possibilidades. Um professor de história faz suas performances entoando um blues aqui e ali. Talvez seus alunos nem saibam o quanto o professor tem de diferente, só devem conhecer sua cara de sala de aula, notas, provas, advertências, essas coisas que nos enfiam goela abaixo na escola. Queria ter tido um professor que cantava blues, maioria deles cantavam o mundo alegre, ou talvez ligavam tão pouco para nós que não valeria ensinar-nos que a vida é blues, triste e dotada dessas diferenças pouco respeitadas.
A lésbica cantou o quanto amava a sua amante: Amor da minha vida, daqui até a eternidade. Ela calada, como se fosse apenas olhos observava as sombras – depois de tanto dia, sobramos somente em sombras. Mas ela estava comigo, ela; a menina linda eu te adoro, como se tentasse descobrir-me em meu mundo. Lia-me enquanto misturava-me nas coxas de uma mulata; não deixe o samba morrer, e eu morria, morria e ela não me via, mal sabe que morro a cada dia, bar, rua, riso, lua, sol, apatia. O copo é ainda é pouco, e a noite termina no silêncio da menina linda, perdendo-me em suas confusões.
Alexandre Grecco, 2007
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