
O sol esconde sua presença aos poucos, mas a noite parece escapar e transbordar no quadro do céu com uma imposição firme. As estrelas ainda não chegaram; o firmamento parece pintado com a tonalidade gritante de um avermelhado tosco. Da janela de meu quarto posso ver as idas e vindas na rua, os passantes, os carros. Divido o olhar entre a janela e um retrato. A janela enquadra a liberdade de minha visão. O retrato parece prender aos poucos a minha razão, ao mesmo tempo em que desanuvia meu corpo, torno-me escravo de uma idéia.
Na esquina em frente, que vejo de modo privilegiado, três mulheres altas trocam sorrisos e gargalhadas que resvalam em meu ânimo e não censuro um momento de riso. As mulheres são o melhor antídoto contra a tristeza. Por um instante tenho vontade de cantar, já não me serve a raiva ou a fossa.
Para distrair o destino e tentar enganar o tempo, imprimindo ritmo veloz a eles, só me resta desconstruir a fotografia. A garota presente na foto está mais presente ainda em meus sentidos, quero distanciar-me. Rasgar a foto ainda não consigo. Deixa-la escondida, uma tortura. A solução provisória, sem mais delongas: estudar o retrato.
Enquadramento, foco, iluminação, os diversos planos. Interessante transportar um objeto banhado pelo sentimentalismo para a analise científica e racional. O resultado não poderia ter sido pior. Me descobri um péssimo cientista e confirmei, diga-se, o velho ditado popular que diz que o amor é cego.
Melhor mesmo é olhar para as mulheres que conversam, e gritam, e dançam, e sussurram, e se divertem lá embaixo. Queria eu me divertir com elas, esquecer o retrato, descer e fugir para local escondido, muito bem acompanhado. O ônibus surge do fundo da rua, a esperança sobe os degraus e passa pela catraca junto com as três. Sobra-me um retrato, um quarto escuro, uma esquina mal iluminada e uma lembrança frágil do amor. A insônia barra a entrada do sono nesta estória.
Na esquina em frente, que vejo de modo privilegiado, três mulheres altas trocam sorrisos e gargalhadas que resvalam em meu ânimo e não censuro um momento de riso. As mulheres são o melhor antídoto contra a tristeza. Por um instante tenho vontade de cantar, já não me serve a raiva ou a fossa.
Para distrair o destino e tentar enganar o tempo, imprimindo ritmo veloz a eles, só me resta desconstruir a fotografia. A garota presente na foto está mais presente ainda em meus sentidos, quero distanciar-me. Rasgar a foto ainda não consigo. Deixa-la escondida, uma tortura. A solução provisória, sem mais delongas: estudar o retrato.
Enquadramento, foco, iluminação, os diversos planos. Interessante transportar um objeto banhado pelo sentimentalismo para a analise científica e racional. O resultado não poderia ter sido pior. Me descobri um péssimo cientista e confirmei, diga-se, o velho ditado popular que diz que o amor é cego.
Melhor mesmo é olhar para as mulheres que conversam, e gritam, e dançam, e sussurram, e se divertem lá embaixo. Queria eu me divertir com elas, esquecer o retrato, descer e fugir para local escondido, muito bem acompanhado. O ônibus surge do fundo da rua, a esperança sobe os degraus e passa pela catraca junto com as três. Sobra-me um retrato, um quarto escuro, uma esquina mal iluminada e uma lembrança frágil do amor. A insônia barra a entrada do sono nesta estória.
Mauricio Mayckon
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