
Quando ele viu estava inerte, parecia que o tempo havia trocado de lugar com o espaço. Sentiu-se como um astronauta, as pessoas, elas estavam sob ele, perplexas, como a contemplar algo surreal, como constatarem o quanto era diferente. Seus pais estavam em casa quando souberam da notícia e correram para praça, os amigos próximos, quando chegaram ao local, começaram a bater palmas, como a compartilhar a alegria dele, um grupo de senhoras achou estranho e começaram a rezar, alguns poucos foram buscar seus instrumentos e fizeram uma banda para acompanha-lo. A praça agora vivia lotada, imprensa do mundo todo veio vê-lo; Alemanha, Argentina, Inglaterra, Espanha, Portugal, Itália, Estado Unidos, até um grupo de poloneses veio cobrir o feito...
Logo foi feito um documentário para o cinema, poucos lembraram que não havia cinema na cidade, mas que importa? Agora ele era do mundo. A mãe dele dizia como começou o processo de mudança: “Ele começou lendo um livro do “Vitu Hugu”, um cara Francês, depois ele tava com um tal de “Flôbert” e “Prost”, pensei até que fosse o inimigo do Airton Senna, mas era não. Ele disse que alguns desses homens viviam em lugares distantes, numa cidade-livro, que até já foi mostrada num filme; lá as pessoas eram livros. Eu achava estranho, já vi chupa cabra, mula sem cabeça e a loira do banheiro, mas pessoa-livro era novo, por um tempo tive medo desse menino, mas depois vi que era só maluquice, até hoje né? Aqui a gente cria filho pensando que vai ser estivador, vaqueiro ou se estudar um pouco pode ser até carteiro né? Ler os destinatário e remetentes...”.
Com alguns dias ele ganhou a chave da cidade, só não aceitou por que não tinha onde guardá-la. Sua irmã posou nua numa revista masculina e seu pai saiu em um jornal especializado em assuntos rurais, a cidade estava em crescimento, há quem diga que foi a época mais próspera que a cidade viveu, pessoas de todo o mundo, alguns malucos que achavam que ele era um profeta ou algo parecido. Saiu na Washington Post, The New York Times, Le Monde, Corriere de la sierra, Playboy, Brazil, Globo Rural entre outras... O mundo estava aos seus pés.
Quando se cansou daquilo tudo, decidiu descer das árvores e terminar de ler seu livro em seu quarto, como era o normal. As pessoas estranharam, acharam que ele não queria mais saber da cidade. Metade da cidade tentou ataca-lo, os vendedores protestaram, os mercadinhos não vendiam mais para sua família, logo começaram os ataques. Nada sobrou, alguns que o defendiam foram para um confronto direto, o prefeito interviu prendendo e torturando seus amigos. Sua família foi perseguida e morta, primos, tios, avós e qualquer pessoa que carregue seu sobrenome havia de morrer nos porões dessa cidade. Apenas ele conseguiu escapar, pegou alguns livros e voltou a praça e nunca mais colocou os pés no chão, andou a vida toda sobre as nuvens, como havia aprendido nos livros de Kafka, um Tcheco que não ia muito bem com seu pai.
Logo foi feito um documentário para o cinema, poucos lembraram que não havia cinema na cidade, mas que importa? Agora ele era do mundo. A mãe dele dizia como começou o processo de mudança: “Ele começou lendo um livro do “Vitu Hugu”, um cara Francês, depois ele tava com um tal de “Flôbert” e “Prost”, pensei até que fosse o inimigo do Airton Senna, mas era não. Ele disse que alguns desses homens viviam em lugares distantes, numa cidade-livro, que até já foi mostrada num filme; lá as pessoas eram livros. Eu achava estranho, já vi chupa cabra, mula sem cabeça e a loira do banheiro, mas pessoa-livro era novo, por um tempo tive medo desse menino, mas depois vi que era só maluquice, até hoje né? Aqui a gente cria filho pensando que vai ser estivador, vaqueiro ou se estudar um pouco pode ser até carteiro né? Ler os destinatário e remetentes...”.
Com alguns dias ele ganhou a chave da cidade, só não aceitou por que não tinha onde guardá-la. Sua irmã posou nua numa revista masculina e seu pai saiu em um jornal especializado em assuntos rurais, a cidade estava em crescimento, há quem diga que foi a época mais próspera que a cidade viveu, pessoas de todo o mundo, alguns malucos que achavam que ele era um profeta ou algo parecido. Saiu na Washington Post, The New York Times, Le Monde, Corriere de la sierra, Playboy, Brazil, Globo Rural entre outras... O mundo estava aos seus pés.
Quando se cansou daquilo tudo, decidiu descer das árvores e terminar de ler seu livro em seu quarto, como era o normal. As pessoas estranharam, acharam que ele não queria mais saber da cidade. Metade da cidade tentou ataca-lo, os vendedores protestaram, os mercadinhos não vendiam mais para sua família, logo começaram os ataques. Nada sobrou, alguns que o defendiam foram para um confronto direto, o prefeito interviu prendendo e torturando seus amigos. Sua família foi perseguida e morta, primos, tios, avós e qualquer pessoa que carregue seu sobrenome havia de morrer nos porões dessa cidade. Apenas ele conseguiu escapar, pegou alguns livros e voltou a praça e nunca mais colocou os pés no chão, andou a vida toda sobre as nuvens, como havia aprendido nos livros de Kafka, um Tcheco que não ia muito bem com seu pai.
Alexandre Grecco, 2007
2 comentários:
Bom texto. Legal a inserção das palavras da mãe do garoto.
Se eu soubesse que trepar em árvore causasse tanto rebuliço nunca teria aprendido... rs
Adorei o texto!
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