
De todas as imagens que surgem de não sei onde, nenhuma explica melhor esta estória que o gado esquelético e bambo, procurando água entre as depressões do terreno seco. Caetano Dodô acorda aos poucos, antes do nascer do sol e do cantar dos galos, na verdade os galos estão sem força e o canto que tentam soltar não acorda nem os bichos rasteiros. Caetano tem mulher cansada, sete filhos mal desenvolvidos, três bois doentes de fome, uma vaca que não dá leite e uma casa de barro e taquara no meio do sertão, sem rastros de humanidade ao redor.
A pele tostada pelo sol daquele fim de mundo tornou-se eternamente dura, rachada. A família inteira tinha o corpo mesquinho, fraco e os ossos bicudos apresentavam suas formas sob o couro curtido. Na casa não havia eletricidade nem boa comida. Mas o que mais aperreava a noção dura de realidade da senhora Cândida era a inexistência de uma espécie de vidro brilhoso, que vira a muitos anos na cidade, que refletia as pessoas e as coisas. Ela não sabia o nome de tal prodigiosa invenção: espelho.
Depois de Caetano, um por um dos habitantes da casa foram despertando. O dia reservava muito trabalho, esforço em dobro até, pois é data especial, a mais importante do ano, talvez a única que conheciam: Festas Juninas. Das regiões distantes viriam os amigos mais próximos para dançar e beber, talvez comer um pouco, se tivesse comida. Enquanto Caetano, com remorso e pena, sacrificaria um de seus bois, os meninos colheriam o pouco milho para a senhora Cândida, preocupada com sua aparência, pedindo ao Deus dos agricultores um vidro refletor mágico, preparar as delícias típicas.
Chegaram os convidados. Muitos e muitos. A mesa apresentava-se farta aos olhos incrédulos dos matutos. Bebida de sobra. Música boa. Uma fogueira gigante, das maiores já produzidas. As moças com os vestidos juninos, os cabelos em tranças, os rostos pintados, sedução demais para os pobres homens, que não tinham felicidade senão a de estar vivos e possuir mulheres. No dia seguinte, atordoados pela festança, fatigados pela ausência do mundo, ninguém lembrou de ir à missa. O padre não transmitiu sua ira aos pobres sertanejos. Ele estava ocupado, esquentando seu corpo frio com a brasa viva que era a pele mulata de Antonieta, debaixo das bandeirinhas coloridas de São João.
A pele tostada pelo sol daquele fim de mundo tornou-se eternamente dura, rachada. A família inteira tinha o corpo mesquinho, fraco e os ossos bicudos apresentavam suas formas sob o couro curtido. Na casa não havia eletricidade nem boa comida. Mas o que mais aperreava a noção dura de realidade da senhora Cândida era a inexistência de uma espécie de vidro brilhoso, que vira a muitos anos na cidade, que refletia as pessoas e as coisas. Ela não sabia o nome de tal prodigiosa invenção: espelho.
Depois de Caetano, um por um dos habitantes da casa foram despertando. O dia reservava muito trabalho, esforço em dobro até, pois é data especial, a mais importante do ano, talvez a única que conheciam: Festas Juninas. Das regiões distantes viriam os amigos mais próximos para dançar e beber, talvez comer um pouco, se tivesse comida. Enquanto Caetano, com remorso e pena, sacrificaria um de seus bois, os meninos colheriam o pouco milho para a senhora Cândida, preocupada com sua aparência, pedindo ao Deus dos agricultores um vidro refletor mágico, preparar as delícias típicas.
Chegaram os convidados. Muitos e muitos. A mesa apresentava-se farta aos olhos incrédulos dos matutos. Bebida de sobra. Música boa. Uma fogueira gigante, das maiores já produzidas. As moças com os vestidos juninos, os cabelos em tranças, os rostos pintados, sedução demais para os pobres homens, que não tinham felicidade senão a de estar vivos e possuir mulheres. No dia seguinte, atordoados pela festança, fatigados pela ausência do mundo, ninguém lembrou de ir à missa. O padre não transmitiu sua ira aos pobres sertanejos. Ele estava ocupado, esquentando seu corpo frio com a brasa viva que era a pele mulata de Antonieta, debaixo das bandeirinhas coloridas de São João.
Mauricio Mayckon...
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